Era para ser. Quando soube das audições para o elenco de “Djavan — O musical: vidas para contar” (que está em cartaz no Rio de Janeiro até 20 de julho e chega em São Paulo no dia 9 de agosto), a manauara Walerie Gondim, de 34 anos, tinha que enviar um vídeo cantando qualquer música do Djavan. Naquele momento, ainda não havia um direcionamento para algum personagem específico. A escolhida por ela foi “Nuvem negra”, canção eternizada na voz de Gal Costa (1945-2022).
— Talvez isso também já tenha mexido com a galera de cara (risos) — diz a atriz, que na última semana viralizou nas redes sociais após a participação no programa “Altas Horas”, onde cantou “Açaí”, caracterizada de Gal Costa, com o mineiro Raphael Elias, o Djavan do musical.
“Gente essa Gal é arrepiante… parece que é ela de verdade… que atriz incrível”, disse um internauta. “Gal ressuscitou na Walerie. Sou muito fã da Gal. Super emocionante essa apresentação. Vocês são fantásticos”, escreveu outro. “Nos primeiros segundos, achei que fosse a Gal mais jovem”, compartilhou uma terceira. Esses são apenas três dos incontáveis comentários que seguem circulando pelas redes.
— Tenho recebido muitos retornos carinhosos, emocionados e às vezes inusitados. Outro dia uma moça me escreveu dizendo que o filho dela de 10 anos disse que estava todo arrepiado quando me assistiu como Gal. Achei tão bonito — comenta a atriz. — A Gal é uma unanimidade. Ela tem muitos fãs e está no imaginário das pessoas como uma figura muito querida, além de ser uma perda recente. Isso mexe bastante. Está todo mundo com saudade dela.
Para chegar nesse ponto tão próximo da Gal, a ponto de confundir e arrepiar as pessoas, o que não faltou foi trabalho.
— Foi muito estudo e muita pesquisa, desde as audições. Assisti a muitas entrevistas e ouvi muitas músicas para entender o timbre dela. Nos anos 1980, que retratamos no espetáculo, ela estava nessa fase bem mulherão sensual — conta. — Fizemos muitos testes nos ensaios, com muita repetição. Foi um processo de tentativa e erro para encontrar um lugar que, para mim, chegasse mais perto dela. Não só do corpo e da voz, mas especialmente da energia. Ficou evidente, desde o começo, que eu precisava capturar e traduzir a essência dela, que era muito sexy mas ao mesmo tempo muito “brincante”, com uma energia bem astral.
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Mesmo estando em cartaz desde o começo de junho, o trabalho de Walerie para se manter fiel à intérprete de “Azul” segue a todo vapor, e não pode parar. Ela explica:
— É um trabalho de atenção cotidiano, de reciclagem. De vez em quando preciso relembrar, revisitar. Dou uma olhadinha em algum vídeo dela. Depois que a gente estreia, vamos ganhando confiança e acabamos relaxando. Então tenho que ter esse trabalho de relembrar para respeitar e honrar o máximo que eu puder a Gal Costa.
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Este é o terceiro musical profissional da carreira da atriz que nasceu em Manaus, viveu em Araruama, no interior do Rio (onde, ainda adolescente, entrou “meio por acaso” para o grupo Teatrama), e há 7 anos mora em Salvador. Em “A Peleja de Santa Dulce dos Pobres”, tinha o repertório de Gilberto Gil como base. Em “Um Grande Encontro”, os de Geraldo Azevedo, Elba Ramalho, Alceu Valença e Zé Ramalho.
— Sou muito marcada pela cultura brasileira na minha vida. Em cada um dos musicas eu tive desafios e resultados diferentes. O repertório e a riqueza da música brasileira talvez seja o que mais una a linguagem desses trabalhos. E em todos eles falo do Nordeste, o que, para mim, é muito feliz — conta a atriz, que tem como grandes referências profissionais Karine TelesGrace Passô, Lição da cidade e a canadense Toni Collette, além dos medalhões, como a dupla das “Fernandas” Montenegro (cuja biografia de vez em quando relê) e Torres.
No dia 18 deste mês de junho, a colunista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo, revelou que, em setembro, em Salvador, haverá um processo de audições para escolher a atriz que vai dar vida à Gal Costa em “Gal, o musical”. O espetáculo é idealizado por Marília Toledo, que também assina o texto com Emilio Boechat. A direção é de Kleber Montanheiro (com Marília) e, a direção musical, de Daniel Rocha.
Tão logo essa notícia começou a circular nas redes, o nome de Walerie foi sendo apontado como um grande favorito para interpretar a protagonista da história.
— Fico muito feliz de as pessoas estarem comigo na cabeça, curtindo o meu trabalho e reconhecendo em mim uma possibilidade, mas sou bem pé no chão nesse sentido. Estou bem contente com o que está acontecendo agora. Está sendo muito especial viver o (musical do) “Djavan” — comenta a atriz.