Esqueça a tensão nas alturas, os personagens constantemente em ponto de combustão e invariavelmente aos gritos, e a sensação de encurralamento no cenário apertado da cozinha. A quarta temporada de “O Urso” chegou diferente. Ela conserva a ambição artística, mas demonstra isso explorando outras intensidades narrativas. O público estranha aquilo que, num primeiro momento, pode parecer uma mudança descaracterizante. A qualidade de sempre, no entanto, vai se impondo à medida que os episódios evoluem. Aos poucos também, vamos reconhecendo cada traço de comportamento, afinal, todos os tipos foram muito bem construídos e essa continua sendo uma marca forte da produção.
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Os capítulos — são dez — têm entre 30 e 40 minutos, com exceção do sétimo, que chega a mais de uma hora (e que hora!). Eles são mais lentos e menos estridentes, mas conseguem produzir exatamente o efeito do passado: fazem o espectador grudar na tela.
Desde o início, a série acompanha a jornada de Carmy (Jeremy Allen White). Muito jovem, ele foi eleito por uma respeitada revista o melhor chef dos Estados Unidos. Trabalhava em um restaurante importante de Nova York, quando voltou para Chicago, onde nasceu, para assumir o negócio que herdou. O The Original Beef of Chicagoland era uma lanchonete decadente. A marcha ré profissional não foi um acaso. Fruto de uma família disfuncional, Carmy foi criado sem o amor da mãe e tem uma quedinha para a autodestruição. É talentoso e trabalhador, mas fechadão e de difícil convivência. Resumindo, falta a ele uma vocação para a felicidade.
Depois de muitos altos e baixos, no fim da última temporada, o chef tinha aberto o The Bear. Pequeno, refinado, e tocado pela equipe do antigo pé-sujo, o lugar agora é candidato a ganhar uma estrela Michelin. Nessa reestreia, encontramos o negócio com problemas financeiros e os personagens tensos com o que a crítica especializada escreverá sobre a comida.
Porém, a trama não se limita a isso. A série amplia seu espectro de chaves emotivas e abre mais espaço para dramas individuais. Figuras ótimas, como Sydney (Ayo Edebiri) , Richie (Ebon Moss-Bachrach), Marcus (Lionel Boyce) e Natalie (Abby Elliott ), têm cenas alentadas. Jamie Lee Curtis, maravilhosa, está de volta. Assim, o roteiro desvia do perigo de se repetir e reduzir a ação a um abre e fecha de restaurantes. Além das brigas, há muita conciliação. Carmy atua como o personagem-guia da virada. Ele faz um grande esforço para superar os erros pregressos. Tenta sinceramente se comunicar com os colegas e procura a ex-namorada, a quem magoou, para se explicar. É através desse movimento dele que “The Bear” baixa o tom. Toda essa nova rota traz um frescor inesperado e bem-vindo ao resultado final.
É a melhor maratona que o leitor encontrará agora no streaming.