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Já pensou em investir em um assento VIP para os jogos de Wimbledon? Ele pode valer até R$ 1,5 milhão


Durante duas semanas de todo verão no Hemisfério Norte, a Quadra Central de Wimbledon é onde os fãs podem assistir aos melhores tenistas no anfiteatro mais prestigioso do esporte. Para alguns dos detentores de ingressos mais caros, no entanto, nem vale a pena comparecer.

Isso porque ter um assento garantido na Quadra Central ou na Quadra Nº 1 por um período de cinco anos se tornou tão lucrativo que muitos estão optando por tratá-los como um ativo negociável, revendendo-os com lucro significativo.

Esses assentos são chamados de debêntures, termo que no setor financeiro é usado para um títulos de dívida emitidos por uma empresa. Os compradores desses papéis recebem um juro ao fim de determinado período, além do dinheiro aplicado. São, portanto, um investimento.

Os assentos debêntures também são títulos. Na Quadra Central para o período de 2026 a 2030, já estão sendo negociados por mais de £ 200 mil (equivalente a US$ 275.300 ou R$ 1,5 milhão), um lucro de cerca de 75% devido à crescente demanda de compradores dos EUA, segundo a a empresa de marketing Dowgate Capital.

Eles foram colocados à venda no ano passado por £ 116 mil (US$ 159.410 ou R$ 867.677).

Andy Murray em jogo do Torneio de Wimbledon — Foto: Glyn KIRK / AFP
Andy Murray em jogo do Torneio de Wimbledon — Foto: Glyn KIRK / AFP

As poltronas debêntures garantem aos fãs de tênis abastados lugar privilegiado, além de acesso VIP a salões e restaurantes. Nos dias em que não podem comparecer, eles têm a opção de vender os ingressos daquele dia — os únicos ingressos de Wimbledon que podem ser trocados legalmente. E cada vez mais investidores estão entrando nesse mercado, comprando debêntures exclusivamente para revendê-las com lucro.

— Você vê fãs de tênis vindo a Wimbledon como se fosse a meca do tênis, de todas as partes do mundo, especialmente dos EUA — disse Alex Cheatle, CEO da Ten Lifestyle Group, um serviço de concierge de luxo que adquire debentures para seus clientes de alto patrimônio.

Preços explodiram para grandes eventos esportivos

Assim como as avaliações de times e franquias esportivas dispararam nos últimos anos, com fundos de private equity e bilionários disputando fatias do setor, o preço para assistir aos grandes eventos esportivos também explodiu.

Os ingressos para jogos da Premier League aumentaram 800% desde 1990, enquanto um assento no Super Bowl de 2024 em Las Vegas era vendido, em média, por cerca de US$ 10 mil (R$ 75 mil).

As debêntures são utilizadas por muitos clubes esportivos — do Arsenal Football Club ao Minnesota Vikings — como forma de levantar fundos, geralmente para cobrir custos de construção. As debentures de Wimbledon foram vendidas pela primeira vez em 1920, com arrecadação de £ 100 mil (US$ 137.422) usada para financiar a construção da Quadra Central.

Desde então, esses títulos já financiaram de tudo: desde a instalação de tetos retráteis nas duas quadras principais — garantindo partidas mesmo com chuva — até a construção de 12 novas quadras nos últimos seis anos.

Eles também serão usados para ajudar a financiar um plano de expansão que prevê a adição de 39 quadras e um estádio com 8.000 lugares, embora esse projeto tenha enfrentado oposição da comunidade local.

Parte das £ 74 milhões (cerca de US$ 102 milhões) que o clube espera arrecadar com as novas debentures da Quadra Nº 1 será destinada à reforma de áreas exclusivas para os detentores desses títulos. Essas debentures, com validade a partir de 2027, foram vendidas por £ 73 mil (US$ 101 mil ou R$ 546 mil) cada em maio, um aumento de 63% em relação à rodada anterior.

— São extremamente importantes — disse Fiona Canning, diretora associada de finanças e debentures do All England Lawn Tennis Club, que organiza o torneio anual. — Elas financiam todas as obras de capital em nosso complexo.

Representante da nova geração do tênis, Carlos Alcaraz treina para Wimbledon 2025 — Foto: HENRY NICHOLLS / AFP
Representante da nova geração do tênis, Carlos Alcaraz treina para Wimbledon 2025 — Foto: HENRY NICHOLLS / AFP

Os lucros com a negociação das debêntures da Quadra Centralo referentes ao próximo verão europeu chegam a 75%. Desde que o primeiro pagamento foi feito, em 17 de maio do ano passado, a Bolsa de Londres subiu menos de 4% e o S&P 500,um dos índice de ações da Bolsa de Nova York, teve alta de 17%.

As poltronas debêntures são regulamentadas por serem consideradas instrumentos financeiros, semelhantes a uma debênture real. A regulamentação oferece proteção e transparência ao comprador, permitindo que se vejam os preços praticados no mercado secundário.

Compradores internacionais

Segundo Tim Webb, chefe de negociações da Dowgate Capital, um dos detentores já pagou as duas primeiras parcelas da sua debênture da Quadra Central — que só começa a valer no ano que vem — e a revendeu recentemente por £ 160 mil (cerca de US$ 220 mil ou R$ 1,2 milhão), obtendo um lucro de 121%.

O novo comprador ainda terá que pagar a última parcela de £ 43.500 (US$ 59,7 mil ou R$ 325 mil), elevando o gasto total para mais de £ 200 mil (US$ 275 mil ou R$ 1,5 milhão).

— Há uma quantidade enorme de compradores internacionais que querem assistir jogos em Wimbledon. É um dos eventos esportivos mais únicos do mundo — disse Webb.

Roger Porter, um gestor de fundos aposentado de Londres, possui um par de assentos com debêntures na Quadra Central há 20 anos, e tem especial apreço por assistir a antigos tenistas britânicos como Tim Henman e Andy Murray.

Aos 83 anos, ele vai com a família sempre que pode, mas nem sempre consegue comparecer todos os dias — então vende os ingressos e ainda recupera mais do que investiu.

— No tempo em que tive a debenture, o valor ou a receita com a venda dos ingressos sempre superou o custo de aquisição — afirmou Porter.

Kate Middleton e a princesa Charlotte assistiram à final masculina de Wimbledon no ano passado n Tribuna Real — Foto: AFP
Kate Middleton e a princesa Charlotte assistiram à final masculina de Wimbledon no ano passado n Tribuna Real — Foto: AFP

Para assistir ao torneio de Wimbledon, que começou na segunda-feira, os fãs podem contar com o sorteio de ingressos, que custam algumas centenas de libras. Quem não pode pagar ou não conseguiu ingresso pode enfrentar longas filas — muitas vezes durante a noite — do lado de fora do local, para conseguir um passe diário que dá acesso às quadras externas.

Mas os assentos com debêntures, que podem estar no mesmo nível da Tribuna Real — onde se sentam membros da monarquia — são os melhores ingressos disponíveis. Há 2.520 desses assentos na Quadra Central, que tem capacidade para cerca de 15 mil pessoas, e 1.250 na Quadra Nº 1, o segundo maior estádio, com cerca de 12.300 lugares.

Alguns detentores de debêntures, como Francois, um profissional da área de arquitetura em Londres, nunca usam seus assentos — preferem vender os ingressos. Em agosto passado, ele — que preferiu não divulgar seu sobrenome ao falar sobre seus investimentos — comprou duas debêntures da Quadra Central válidas de 2021 a 2025 por £ 84 mil (US$ 115 mil ou R$ 628 mil)

Ele prevê um lucro de £ 15 mil (US$ 20,6 mil ou R$ 112 mil) apenas com a revenda dos ingressos para a única edição do torneio que ele de fato possui. Para aumentar ainda mais o retorno, também pagou por refeições no restaurante exclusivo da Quadra Central, o que lhe permite cobrar mais pelos ingressos.

Segundo Natasha Bhatia, fundadora da Green & Purple — uma plataforma de revenda de ingressos que usa as cores de Wimbledon em sua identidade — os compradores de ingressos vão de grandes fãs de tênis a pessoas que “vão tentar maximizar o valor de cada ingresso individual”.

Os interessados podem adquirir ingressos com debêtures por meio de revendedores como o Wimbledon Debenture Holders. O preço diário mais barato nesse site, para ingressos da Quadra Nº 1, está atualmente em £ 875 (US$ 1.202 ou R$ 6,5 mil). Já os assentos com debentures para a final masculina na Quadra Central estão sendo vendidos por quase £ 10 mil (US$ 13,7 mil ou 75 mil).

— A marca Wimbledon está acima de qualquer outro torneio de tênis — disse Philippa Winton, diretora do Wimbledon Debenture Holders.

Para o All England Lawn Tennis Club, as debentures permitem vender ingressos com anos de antecedência e garantem receita futura. O clube registrou um prejuízo de £ 14,1 milhões (US$ 19,4 milhões ou R$ 105 milhões) no ano encerrado em julho de 2024, mas esse valor não inclui as receitas provenientes das debentures.

Após a aposentadoria de grandes jogadores como Roger Federer, Rafael Nadal e Andy Murray nos últimos anos, houve preocupações sobre a demanda, segundo Cheatle, da Ten. Mas uma nova geração de atletas, como Carlos Alcaraz e Jannik Sinner, surgiu com muito talento, criando novas rivalidades que estão cativando os fãs de tênis.

— Quem não gostaria de ver Alcaraz contra Sinner? — questionou Cheatle.



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