E cupla para BRICSque ocorre hoje e amanhã no Rio, tende a consagrar o viés antiocidental que acompanha o bloco desde a criação por Brasil, Rússia, Índia e China, em 2009. A ausência de Xi Jinping em nada muda o uso que os chineses têm feito dele como veículo e plataforma para exercer liderança sobre outros países, em contraponto a americanos e europeus. Sinal disso tem sido a contínua expansão do Brics na Ásia, ampliando a esfera de influência chinesa. Xi — representado pelo primeiro-ministro Li Qiang — não precisa estar no Rio para que o Brics continue a ser útil a Pequim.
Depois do acréscimo do “s”, com a entrada da África do Sul em 2011, o Brics foi ampliado em 2024, com a chegada de Irã, Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, afastando-se das pretensões de defender as liberdades e valores democráticos. Em janeiro, a Indonésia também aderiu ao bloco. Malásia, Tailândia e Vietnã acabam de decidir tornar-se associados, primeiro passo para ser membros titulares. O Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) é fator de atração no Sudeste Asiático, assim como o mecanismo que oferece a bancos centrais do bloco acesso a fundos de emergência.
Com as novas adesões, o peso do Brics crescerá para 40% do PIB mundial, mais que os 30% do G7, grupo que reúne as democracias ocidentais mais ricas. Mas a importância desses blocos não se mede pela soma de PIBs. O Brics tem pretensões de desenvolver políticas concretas para ampliar comércio e investimentos entre seus membros e de conquistar peso relevante na geopolítica global. Por ora, tem prevalecido o antiamericanismo atávico de alguns integrantes. “A expansão fortaleceu o Brics como plataforma para responder aos desafios da atualidade e do futuro, entre eles a defesa da diplomacia e do multilateralismo, cuja reforma e fortalecimento já não podem mais esperar”, escreveu recentemente o chanceler Mauro Vieira. “Somente uma ação coletiva rápida e eficaz pode reverter o atual quadro de debilidade das instituições internacionais.”
Da agenda da cúpula no Rio, consta o lançamento do Fundo de Garantia Multilateral, criado pelo NDB. Há também discussões sobre fortalecimento do comércio e transações financeiras usando moedas nacionais. Saiu da pauta a ideia de uma moeda comum como alternativa ao dólar (Donald Trump prometeu taxar as exportações do Brics para os Estados Unidos em 100% se a proposta fosse adiante). De resto, retomam-se discussões sem efeito prático, como “governança global e cooperação no Sul global” ou “governança responsável” da inteligência artificial pelo ângulo do “desenvolvimento digital inclusivo”. Em temas essenciais, como clima, saúde, segurança ou combate ao terrorismo, é duvidoso que o Brics possa adquirir relevância.
Para o Planalto, ele é um instrumento de contenção do poderio americano. Pela heterogeneidade dos integrantes que passou a abrigar, de certa forma lembra o Grupo dos 77, criado em 1964 por países em desenvolvimento como contraponto aos ricos, sem jamais alcançar nenhum vulto. Enfrenta também a mesma dificuldade: articular consenso entre interesses múltiplos, nem sempre alinhados. Apesar disso, o chanceler Vieira insiste que “o Brics continuará a falar com uma só voz, a partir de agora reforçada pelo peso ampliado de seus 21 integrantes”. Pelo que se tem visto nas reuniões recentes, se isso acontecer, será a voz da China.