Neste trágico caso envolvendo a brasileira Juliana Marins, que morreu ao cair durante a trilha de subida para o vulcão Rinjani, o segundo maior da Indonésia, após ficar quatro dias à espera de resgate em um desfiladeiro, ganham força os relatos sobre a falta de estrutura e o descaso das agências que vendem o passeio como algo “simples”.
Amiga da coluna, Maria Luiza Lins Reuter, 39 anos, advogada e viajante com mais de 20 países carimbados em seu passaporte, relata como foi sua experiência na região, em 2017, indicando que Juliana pode não ter recebido todas as informações necessárias antes de aceitar participar da aventura.

Brasileira narra experiência com guia no vulcão na Indonésia onde morreu Juliana Marins:
“As chances de a Juliana ter sido enganada são muito grandes. Lamento demais”, diz Maria, que foi ao país asiático para surfar nas praias locais. Ela conta que, ao lado de duas amigas, buscava algo diferente das sessões de surfe programadas para a viagem. Pois é aí que entra o Monte Rinjani.
“Nos foi vendido como um passeio muito tranquilo, uma trilha fácil, que idosos e crianças seriam capazes de fazer. E também nos foi garantido que teríamos um guia experiente, que ficaria à nossa disposição. Seria uma trilha de duas noites e três dias. Teria barraca, alimentação e todos os equipamentos necessários”, diz Maria Luiza, antes de entrar na parte do perrengue:
“Quando chegamos para alugar os equipamentos, após horas de viagem até a base do vulcão, não encontramos o que precisávamos. Não havia, por exemplo, botas nos nossos tamanhos. E fomos pressionadas a continuar, pois estávamos em grupo. Era uma agência. Não tínhamos como voltar. Nos foi garantido que seria possível fazer o percurso assim mesmo.”
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A partir daí, foram horas de total aflição e profundo desespero diante de quem havia oferecido um passeio “tranquilo”. O guia, por exemplo, levou duas barracas para seis pessoas. Para piorar, ele sugeriu que uma das brasileiras dormisse com um total desconhecido que integrava o grupo.
“Da entrada do parque até o local onde acamparíamos, foram seis horas de caminhada, e estávamos bastante cansadas quando chegamos à base do vulcão. Quando chegamos lá, ficamos atônitas. Era um lugar muito estreito, com despenhadeiros dos dois lados. Uma das minhas amigas teve uma crise de pânico, enquanto o guia ria da nossa situação. Ele queria que dividíssemos uma barraca com um rapaz que nunca havíamos visto na vida”, desabafa.
Uma das amigas de Maria Luiza se recusou a continuar a viagem, apesar do frio que fazia e da falta de roupas adequadas. Na subida ao cume do vulcão, ainda de madrugada, elas foram surpreendidas ao descobrir que o guia do grupo tinha apenas uma lanterna. Para piorar, com 40 minutos de caminhada, o aparelho parou de funcionar. Ou seja, elas fizeram o restante da caminhada no escuro.
“Chegamos ao topo do vulcão depois de 4 horas, já de manhã. A descida era extremamente difícil. Nos momentos em que conseguíamos nos comunicar, era para pedir a Deus que ninguém escorregasse. Não houve qualquer empatia ou cuidado conosco. Enfim, descemos e seguimos para o segundo ponto de descanso. Conseguimos nos livrar desse pesadelo. Saímos ilesas”, reflete Maria, antes de lamentar:
“O que aconteceu foi um absurdo. Sou acostumada a viajar e nunca imaginei que, num box de turismo, fosse vendido um passeio com esse grau de risco como se fosse algo tranquilo. Ser colocada numa situação dessas, de forma totalmente iludida, é o que mais me abala. Isso aconteceu em 2017, e em 2025 continua acontecendo do mesmo jeito.”