Com um nome tão delicado, a cri-du-chat (choro do gato, em francês) pode soar como uma invenção literária. Mas a síndrome, que atinge um a cada 15 mil nascidos, é real e desafiadora. Um de seus primeiros sinais é o choro baixo e frágil do bebê, semelhante ao miado de um gato. É o caso da protagonista de “Lulli — A gata aventureira”, novo livro infantil de Míriam Leitão. Logo nos primeiros dias de vida, o médico avisou que a menina poderia enfrentar atrasos no desenvolvimento, como dificuldades na fala e na locomoção. Mas, como lembra a autora, o futuro é uma página em branco — e tudo na vida de Lulli se revela um “talvez”.
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O livro, com lançamento hoje, a partir das 16h, na Travessa do Shopping Leblon, traz ilustrações de Letícia Moreno e narra com humor e sensibilidade a trajetória de superação da menina, do berço às primeiras experiências no colégio. Assim como a síndrome, Lulli também é real: afilhada da autora, ela inspira a história com sua coragem e carisma.
— A cri-du-chat é uma síndrome rara que precisa ser mais conhecida, porque, quanto mais pessoas souberem, mais cedo reconhecerão os sintomas — diz Míriam, que tomará posse na ABL no dia 8 de agosto. — E, quanto mais cedo os sintomas forem reconhecidos, mais bem-sucedido o tratamento será. Este livro nasceu do amor que cercou a Lulli e toda a garra e superação que ela teve.
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A Lulli da vida real ajuda a conscientizar o público sobre a síndrome em seu perfil no Instagram, @lulli_criduchat, que também divulga ações da Associação Brasileira da Síndrome Cri Du Chat (ABCDC), criada em 2020. Muitos dos casos contados no livro foram inspirados na trajetória da menina, que sempre contou com uma rede de apoio. Lulli aprendeu a andar e falar (e nadar e dançar) no seu próprio tempo — sendo “radical e livre”, como define Míriam.
— Todo mundo pode se identificar com a história, porque falo sobre aceitação das diferenças — diz. — Acredito que as pessoas são diferentes e iguais ao mesmo tempo, por isso sempre trabalhei pela inclusão. Recebi uma mensagem emocionante de um adulto autista, que se disse feliz por eu estar levando a público essa questão das diferenças.
Para a editora do livro, Ana Lima, a história ressoa com o momento atual, em que muitas crianças apresentam níveis de aprendizados diferentes após isolamento da pandemia. Uma teoria encampada pela autora.
— Todo mundo tem que estar confortável com a sua própria história e seu próprio ritmo, e acho que essa mensagem se torna ainda mais poderosa no contexto dos jovens no pós-pandemia — diz Míriam.