No topo da lista de livros mais vendidos no Brasil, Clarice Lispector (1920-1977) também virou leitura de cabeceira das divas pop internacionais. Em meio à divulgação de seu novo álbum, Virgin, a cantora neozelandesa Lorde revelou na última sexta-feira (27) ter se inspirado na obra da escritora ucraniano-brasileira para compor as faixas.
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No mês passado, foi a vez da estrela teen Olivia Rodrigo declarar seu fascínio por Clarice. Em conversa com a Voguea jovem americana contou que leva sempre um exemplar de “A hora da estrela” na bolsa. O livro, aliás, lhe foi recomendado por St. Vincent, outro nome de peso na música americana contemporânea.
“Esse é o livro que estou lendo agora”, disse Olivia, mostrando a capa da edição americana de “A hora da estrela”, lançada nos Estados Unidos em 2020 durante o centenário da autora. “Minha amiga Annie (St. Vincent) comprou para mim quando estávamos fazendo shows juntas no Brasil. Estou marcando e anotando no livro inteiro. Ele tem palavras muito bonitas”.
Traduzida para 32 idiomas e publicada em mais de 40 países, Lispector já tem presença consolidada no mercado internacional. Mas as menções crescentes de celebridades de língua inglesa reforçam seu novo momento de visibilidade global. Nos Estados Unidos, suas obras vêm ganhando reedições caprichadas por editoras como New Directions, com capas modernas e novos prefácios.
A premiada atriz australiana Cate Blanchettpor exemplo, disse ter extraído lições valiosas da obra de Clarice . “Vivemos tempos de incerteza. Eu pego coragem, de certa forma, de Clarice Lispector, uma escritora brasileira que é simplesmente genial, cujos trabalhos eu tenho lido recentemente, e ela diz que há certas vantagens em não saber”, explicou ela, ao ser premiada no Festival de San Sebastian, no ano passado.
Sem Brasil, a figura de Clarice também influencia a cultura popular. Já inspirou clipe da cantora Luísa Sonza (“Penhasco”) e é frequentemente citada por artistas, dos irmãos Sandy & Júnior a Caetano Veloso. Seu rosto já virou até tatuagem no braço do rapper Filipe Ret.
— Clarice é pop: está nas redes e nas declarações de celebridades da música e do cinema — diz Ana Lima, gerente editorial da Rocco, que publica as obras de Clarice no Brasil. — O crescimento nas vendas dos livros da autora vem acontecendo nos últimos anos, e coincide com os trechos viralizando no TikTok.
A difusão na rede social chinesa, popular entre os mais jovens, ajudou o desempenho na última Bienal do Livro do Rio, em que a autora emplacou dois livros entre os dez mais vendidos. Forte no imaginário popular, a personagem Macabea, de “A hora da estrela”, inspira milhares de vídeos na plataforma. É fácil encontrar trechos da adaptação cinematográfica de 1985, dirigida por Suzana Amaral.
— Agora estamos além da rede social e dos livros, já que Clarice sempre foi referência, em músicas, álbuns, identidades — diz Lima, que explica como a editora irá capitalizar a reverência das celebridades a autora. — Um elogio da atriz Cate Blanchett será usado na capa da próxima edição de “Todos os Contos”, e replicamos os vídeos e citações da Olivia Rodrigo e Lorde nas redes sociais da editora, fazendo com que ganhem mais tração tanto no Instagram quanto no TikTok.
No embalo da popularidade de Clarice, a editora está para lançar uma adaptação de “A hora da estrela” em HQ, com roteiro de Leticia Wierzchowski e arte de Aline Lemos.